
Cuiabá amanheceu mais silenciosa. Não o silêncio comum das manhãs preguiçosas, mas um silêncio que pesa, que sufoca, que não se explica. Faltou som. Faltou vida. Faltou Thiago Marques.
No coração da cidade, entre microfones, partituras, vozes e histórias, ele foi maestro invisível de tantos sonhos. No estúdio Inca, ele não apenas gravava músicas — ele preservava a alma de Cuiabá em cada acorde. Não havia pressa em Thiago, havia cuidado. Não havia vaidade, havia entrega. De Pescuma a Estela Ceregatti, de Vanguart a Hamilton de Holanda, de Marcos Paulo & Juliano à doce Vera Capilé — todos passaram por suas mãos com a certeza de que seriam ouvidos. E mais do que isso: compreendidos.
O cantor e atual secretário municipal de Cultura, Johny Everson, foi o primeiro artista de Mato Grosso que Thiago gravou. Uma conexão que ultrapassou o tempo e o ofício, unindo amizade, respeito e música. Como se naquele primeiro registro já estivesse previsto todo o caminho que ele trilharia: um caminho de sensibilidade, profissionalismo e amor à cultura cuiabana.
Era funcionário da Secretaria de Cultura, sim — mas era, acima de tudo, um operário da memória sonora da cidade. No estúdio do MISC, conduzia gravações como quem cuida de relíquias. E foi assim, em silêncio e com afeto, que ele eternizou um dos últimos trabalhos no mês passado, com o baixista cuiabano Ebinho Cardoso, direto dos Estados Unidos — mais uma ponte entre Cuiabá e o mundo que só Thiago sabia construir.
Ele conhecia o tempo certo das pausas. Agora, fez a sua.
É estranho pensar que alguém tão cheio de som e fúria tenha partido assim, deixando um silêncio ensurdecedor atrás de si. Mas quem o conheceu sabe: Thiago não se vai por completo. Ele está nos discos, nas vozes, nas músicas que ainda vão nascer das gravações que ajudou a lapidar. Ele está na Cultura, com C maiúsculo, que tanto defendeu com humildade e amor.
Cuiabá hoje chora. E nesse choro há saudade, mas também gratidão. Obrigado, Thiago, por ter sido som onde faltava melodia, por ter sido bastidor onde muitos queriam palco. E que, onde estiver, você continue mixando estrelas com o mesmo cuidado com que equalizava as vozes dessa terra quente e cheia de corações apaixonados.
Vai em paz, maestro do invisível. O seu som, esse, ninguém silencia.
Fonte cuiaba de antigamente
https://www.facebook.com/groups/Cuiabanos/permalink/4032490550302507/?rdid=tqPvlCCS2XOjin1n#
Comentários